Houve uma época na internet em que contávamos a mais trivial das experiências para inúmeros desconhecidos, em um espaço cheio de gifs piscantes, montagens feitas no Paint e fotos de bandas emos. Nessa época, o termo “blogueiro” não era usado para quem fazia de sua imagem uma profissão, mas para quem abria a própria vida por meio de textos pessoais em um espaço online. Foi nessa época que me encantei com a escrita de Anna Vitória Rocha, pesquisadora e estrategista de conteúdo que, para nossa sorte, continuou transformando suas experiências pessoais em texto. Hoje, por trás da newsletter No Recreio e de todo o conteúdo da Oya Care, Anna arrumou um espacinho entre seus cafés no Festival de Filmes Vencidos e seus passeios a aquários para compartilhar com a gente quais são suas últimas obsessões.
As cinco obsessões de Anna Vitória
Anna Vitória (Instagram, Substack)
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Festival de Filmes Vencidos, ou apenas FFV
“Como alguém que viu Gilmore Girls demais na adolescência, eu também passei a vida fantasiando com a ideia de ser cliente regular de um café, do tipo que conhece os donos, sabe da vida dos outros frequentadores e pede quase sempre a mesma coisa. Pude realizar uma versão desse sonho quando descobri o FFV, um café que abriu na Santa Cecília pouco tempo depois que eu me mudei pro bairro. Além de café, ele também é uma loja de fotografia e, por mais insuportavelmente hipster que essa descrição o faça parecer, é um lugar de vibe muito tranquila, sem aquela afetação hipster dos cafés da Santa Cecília, de modo geral, e com preços mais amigáveis também. Bato ponto por lá pelo menos uma vez por semana para tomar o coado do dia e vejo o lugar como um refúgio quando preciso sair de casa, ver pessoas e espairecer depois de muitas horas trabalhando na frente do computador. Os atendentes são todos muito queridos e ficaram amigos do meu namorado, que é a pessoa simpática e extrovertida da relação. Também gosto que lá sempre tá rolando um som legal, e na maior parte do tempo as músicas vêm direto das pick-ups que ficam no balcão. Também recomendo o pão de queijo e o cookie de chocolate com tahine.”


Rilo Kiley
“Rilo Kiley é uma bandinha indie que surgiu ali bem no início dos anos 2000 e nunca chegou a estourar de verdade por aqui, tirando o hit “Portions for Foxes”, música que a maioria das pessoas conhece porque toca no primeiro episódio de Grey’s Anatomy. Eu cheguei neles quando conheci o trabalho solo da Jenny Lewis, que é vocalista da banda, e toda a discografia foi importante demais pra mim ali no início da vida adulta, quando entrei na faculdade e tava começando a descobrir o mundo. Ano passado, quando a Jenny saiu em uma turnê comemorativa com o The Postal Service, outra banda em que ela tocava na época, comecei a manifestar um retorno do Rilo Kiley – até porque em 2024 o “More Adventurous”, disco mais importante deles, fez 20 anos. E não é que eles voltaram esse ano, menina? Cheguei a lacrimejar um pouco quando vi o anúncio da turnê especial e isso me colocou num vórtex de revisitar toda a discografia deles, o que tem sido um processo delicioso. Recomendo demais a dupla “The Execution of All Things” e “More Adventurous” para quem quiser cair nesse buraco também.”
Perfumaria
“Sou maluca por perfumes desde criança. Lembro que cheguei a ficar amiga de uma vendedora dessas lojas multimarcas de perfumes importados quando tinha uns 10 anos, ela sempre me deixava fuçar em todos os vidros da loja e passava generosas borrifadas do Angel, minha obsessão na época, sempre que eu aparecia. Esse interesse ficou um pouco dormente por uns anos, mas voltou com tudo na pandemia, quando comecei a ler muito sobre o assunto e a gastar horas no Fragrantica analisando pirâmides olfativas. Não acho que tenho um nariz particularmente habilidoso, então ano passado realizei um sonho que eu nem sabia direito que tinha, que era fazer uma aula de alfabetização olfativa, basicamente um dia inteiro conhecendo a fundo as notas mais famosas, vendo matérias-primas de perto e cheirando MUITOS perfumes. Se quer me ver feliz, me leva na Sephora pra cheirar perfume e sair com uma nuvem tão densa de cheiros ao meu redor que periga explodir se alguém riscar um fósforo nos arredores.”
História do Brasil
“O livro mais legal que li ano passado foi Incidente em Antares, do Érico Veríssimo. É um calhamaço em que cerca de ¾ das páginas são preenchidas com uma releitura da história do Brasil que vai desde a época de Dom Pedro até as efervescências da ditadura militar, tudo isso inserindo os personagens da história nessa grande trama política. Ler esse livro me deixou com uma baita saudade das aulas de História da escola, então comecei a procurar por aulas no Youtube pra poder me aprofundar nos períodos que o livro estava abordando. Nem foi intencional, mas acabei emendando outras leituras que dialogam com a história do país e tenho curtido revisitar essas memórias, confrontar aquilo que aprendi na escola, no início dos anos 2000, com a perspectiva mais aprofundada e crítica que temos hoje de um monte de eventos importantes, como a colonização e, óbvio, a ditadura. O fato de ter ido 3 vezes na Pinacoteca de São Paulo nos últimos seis meses também contribui bastante pra isso, inclusive curti demais a exposição sobre a figura do caipira que estava rolando até pouco tempo. Agora estou lendo Chatô – O Rei do Brasil, uma biografia enorme do Assis Chateaubriand, e me deliciando com todas as fofocas que ele traz sobre os políticos e outros grandes nomes do país ali no início do século XX. Minha coisa favorita no momento foi saber que o Chatô era caloteiro e que ele gostava de falar mal dos modernistas da Semana de 22.”
Aquários e zoológicos
“Sempre tive muitas restrições em relação à existência de aquários e zoológicos, acho que nunca superei aquele documentário “Blackfish”, que faz um exposed do Sea World e outros lugares que usam animais como entretenimento. Via tudo com maus olhos, era uma coisa que realmente me deixava triste. Mas como uma das minhas grandes alegrias na vida é ver fotos e vídeos de animais na internet (inclusive escrevi sobre meus perfis favoritos recentemente), acabei caindo em bolhas de veterinários no finado Twitter e no Tiktok. Por conta deles, tive a chance de aprender muito sobre como aquários e zoológicos funcionam hoje em dia, todo o cuidado e respeito que existe pelos animais, e acho que o principal foi saber da importância desses espaços pra conservação ambiental. Na real, eles são como um asilo para bichos que não sobreviveriam na natureza, sem os cuidados humanos. Eles fazem pesquisa sobre preservação dessas espécies, reprodução e crescimento e funcionam como centros de educação ambiental. Ou seja, aquários e zoológicos são muito legais e importantes!!!! Hoje eu espalho a palavra e incentivo todo mundo a visitar os da sua região. Recentemente conheci o aquário de São Paulo e fiquei encantada. Aprendi muito, vi vários animais incríveis e saí feliz por saber que eles estavam recebendo o cuidado que precisam e merecem.”
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